Há 14 anos atrás era lançado o primeiro iPhone. Me lembro perfeitamente do suspiro e palavras do Steve Jobs naquele dia:
“Este é um dia … que eu estive aguardando nos últimos 2 anos e meio.“
Uma ferramenta totalmente à frente do seu tempo. Tão futurista para 2007, que foi motivo de chacota dos concorrentes por trazer um telefone sem teclado físico. O aparelho lançou um design tão fantástico que se mantém como o “template” dos celulares até hoje. Steve, saudades.
O iPhone trouxe tudo o que estava solto por aí para dentro de um único dispositivo: telefone, câmera, música, internet, vídeo game, calculadora, … Tudo! Menos uma alma.
No presente no qual escrevo esse post, já temos o iPhone 12. Confesso que estou com um pé na Apple para comprar o meu, afinal, como fotógrafo e filmmaker, ele é uma baita ferramenta para ter no meu bolso. São 3 câmeras, com uma ultra-wide com campo de visão de 120º e abertura máxima de 1.6 na lente principal. Mas ainda assim, ele é só uma ferramenta.
Carl Jung, psicoterapeuta suíço e truta de Freud, tem uma frase que amo e que sintetiza muito bem isso:
“Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana.”
O que quero dizer com tudo isso é que se você usa Canon, Sony, Nikon ou um iPhone para fazer o seu retrato, isso não define a real qualidade da fotografia. O verdadeiro retrato é aquele que nos faz identificar a personalidade de quem está estampando a foto. A sua essência deve banhar toda a atmosfera do retrato.
Ok, super poético… Mas como fazer isso?
É muito mais acessível do que comprar uma câmera nova. Você precisa conhecer profundamente quem você está retratando e ajudá-lo a florescer a sua personalidade através da fotografia.
Conheço fotógrafos super estimados que vão às cegas para o ensaio, deixando para conhecer o retratado somente no local. Suas fotos são tecnicamente lindas, mas o que está composto na fotografia é um quadro, uma fotografia de publicidade de perfume e não a essência da pessoa presente naquele retrato.
Foi inevitável, depois de 21 anos à frente de projetos de comunicação, ter ferramentas de design e marketing na minha metodologia de fotografar. Vou dar uma pincelada em cada uma delas e tendo interesse, recomendo que se aprofunde nos assuntos.
ARQUÉTIPOS
Arquétipos são imagens que todos nós temos em nosso inconsciente e que podem ser despertadas com o uso de símbolos. Esse conceito é usado na psicologia, marketing, narrativa e muitos outros campos.
Um exemplo para ficar mais claro: Você agenda uma reunião em uma cafeteria para conhecer o seu novo advogado. Ele chega 10 minutos atrasado, estaciona a sua moto cheia de adesivos e vem caminhando na sua direção. Ele veste um terno cinza, muito bem alinhado e feito sob medida. Porém, está com um tênis de corrida laranja, cabelo desgrenhado pelo capacete e barba por fazer. Tendo apenas poucos segundos para gerar uma interpretação e classificação dessa pessoa em sua mente, você provavelmente o interpretaria como uma pessoa que não se encaixa nos padrões impostos pela sociedade. Esse é um advogado com forte uso do arquétipo fora-da-lei.
Quem cunhou o conceito de imagens no inconsciente coletivo foi Jung (antes, Freud acreditava que existia apenas o inconsciente pessoal), mas existem diversas vertentes sobre os arquétipos. Vale escolher uma dessas classificações e trabalhar somente com ela, para não se perder nos conceitos estabelecidos.
No marketing, existem 12 arquétipos. São eles: Inocente, Sábio, Herói, Fora-da-Lei, Explorador, Mago, Cara Comum, Amante, Bobo da Corte, Cuidador, Criador e Governante.
Você deve diagnosticar o arquétipo predominante junto ao seu retratado e montar todo o conceito visual para transparecer isso na fotografia, desde cenário, vestimentas, cores, poses, expressões faciais, etc.
SEMIÓTICA
Agora que precisamos compor um ambiente que represente essa simbologia, a semiótica entra como nossa amiga facilitadora.
Semiótica é um estudo sobre o significado dos signos. Mas claro que não falo de Libra ou Áries. Signos, neste caso, quer dizer: “uma coisa que representa outra” (Décio Pignatari).
A lógica por trás da semiótica é entender que nosso cérebro interpreta o mesmo signo de formas diferentes, chamadas de ícone, índice e símbolo. Mas não irei aprofundar tecnicamente nisso para não deixar o papo monótono, ok?
Vamos ao exemplo: Você está fazendo um passeio de lancha e ao ver outras pessoas no mar, resolve dar um mergulho. Depois de 2 minutos na água, você escuta pessoas gritando e voltando para os seus barcos. Peixes passam nadando rápido e esbarram nos seus pés. Em segundos, surge uma mancha vermelha na água a menos de 3 metros de você. Neste momento, você avista um pequeno triângulo cinza emergindo da água. Provavelmente, veio a imagem de um tubarão na sua mente. Mas você viu um tubarão? Não. Você recebeu signos sensoriais que a sua mente interpretou como um tubarão.
Ao utilizar a semiótica na fotografia, iremos buscar os signos que nos ajudem a montar a atmosfera do arquétipo escolhido para o seu retratado.
LINGUAGEM CORPORAL
Se o seriado Lie to me veio a sua cabeça, você entendeu do que estou falando.
Claro que o seriado foi criado com uma narrativa de entretenimento, mas a linguagem corporal é bastante séria e pode indicar sentimentos que não conseguimos esconder.
Por exemplo: Um sorriso falso é relativamente fácil de fazer com uma curvatura da boca, mas o sorriso real, que acontece com os olhos, sobrancelhas e outros movimentos musculares da face, dificilmente poderão ser reproduzidos sem o estímulo verdadeiro.
Saber estimular sentimentos reais e orientar o retratado em suas poses é papel do fotógrafo e não existe nada pior do que um profissional que deixa o cliente sem orientação durante o ensaio. Então, vista o papel do Tim Roth e estude como o corpo se comunica.
MOODBOARD
Sem floreios, o moodboard é o PPT maroto que você monta com tudo que falei acima e apresenta ao cliente. Coloque seus estudos dobre o arquétipo, paletas de cores, vestimentas, tipos de iluminação, referências de poses e expressões faciais.
No dia do ensaio, esteja com o moodboard para consultas.
Bom, essa é a minha maneira de pensar e a forma como crio o contexto da minha fotografia, principalmente no retrato corporativo. O equipamento sempre será um aliado, mas nunca será o sujeito principal de uma fotografia.